Turquia tem acesso a empréstimos de defesa da União Europeia

A União Europeia incluirá a Turquia em seus programas de financiamento da indústria de defesa e aquisição conjunta, concedendo acesso a empréstimos de baixo juros sob uma nova iniciativa, de acordo com Kaja Kallas, Alta Representante da UE para Assuntos Externos e Política de Segurança, conforme noticiado pela agência de notícias estatal turca Anadolu.
Em conversa com um grupo de jornalistas turcos na Comissão Europeia, Kallas detalhou a nova posição da Turquia dentro da estrutura estratégica de defesa da UE.
A inclusão é possível através da nova iniciativa do bloco, Segurança em Ação para a Europa (SAFE), que visa fortalecer a produção e coordenação de defesa da Europa.
“Agora, a Turquia, como país candidato, também tem acesso a empréstimos do SAFE, por exemplo, para projetos conjuntos com os países europeus”, confirmou Kallas.
Embora as declarações de Kallas marquem um passo positivo para a cooperação em segurança, a estrutura detalhada da parceria está inserida em um programa de defesa mais amplo formalmente aprovado pela UE. O escopo da participação da Turquia, as condições financeiras e os termos políticos são definidos sob esta nova iniciativa.
O Conselho Europeu aprovou o SAFE em 27 de maio como um plano de €150 bilhões para apoiar projetos de defesa colaborativos e reduzir a dependência da Europa de parceiros militares externos. O SAFE faz parte de uma estratégia de defesa europeia mais ampla de €800 bilhões para 2030, que inclui a reavaliação da dependência da UE em relação à OTAN.
Uma das características centrais do SAFE é a inclusão de países não membros da UE. Países candidatos como a Turquia e nações com laços de defesa existentes com a UE podem aderir por meio de acordos formais de cooperação. Para a Turquia, isso fornece um canal para um envolvimento mais profundo nos esforços de defesa europeus, particularmente à medida que sua indústria de defesa doméstica cresce, com ênfase em drones e sistemas avançados.
A participação exige um acordo formal sob o Artigo 17 do regulamento adotado em 20 de maio.
A Grécia havia solicitado o requisito de que todas as parcerias não pertencentes à UE fossem aprovadas por unanimidade pelos membros da UE, invocando os Artigos 212 e 218 do Tratado da UE. A proposta foi rejeitada pela Alemanha e por especialistas jurídicos da UE e foi finalmente retirada.
No entanto, a Comissão Europeia esclareceu que o Artigo 212 permanecerá a base legal para tais acordos. A Grécia emitiu uma declaração separada para registrar suas reservas e evitar ambiguidade legal.
Se concluído sob o Artigo 212, um acordo UE-Turquia poderia estabelecer uma ampla cooperação cobrindo elementos técnicos, financeiros e industriais de defesa, com supervisão da UE para garantir a conformidade com os padrões democráticos.
Projetos envolvendo parceiros não membros da UE, como a Turquia, exigirão a aprovação da maioria dos estados membros da UE.
O SAFE fornecerá empréstimos de baixo juros e longo prazo para aumentar a produção de defesa em toda a Europa. Pelo menos 65% de cada projeto deve ser realizado por empresas sediadas na UE, enquanto parceiros não membros da UE podem contribuir com 15 a 35%.
A Comissão Europeia levantará fundos nos mercados financeiros e oferecerá empréstimos de 45 anos aos países participantes. As propostas de projetos devem ser enviadas até 30 de junho de 2027, e os €150 bilhões devem ser alocados até 2030.
Tensões Políticas Persistem
Apesar do potencial para cooperação em defesa, as tensões políticas entre a Turquia e a UE persistem. O Parlamento Europeu tem criticado repetidamente a Turquia por retrocessos democráticos.
Grupos de direitos humanos, como a Freedom House, alertaram sobre o declínio das liberdades civis e do estado de direito sob o governo do presidente Recep Tayyip Erdoğan. Em seu relatório de 2025, a Freedom House classificou a Turquia como “Não Livre”, citando o aprofundamento do autoritarismo e a supressão da dissidência.
O Parlamento Europeu e organizações de direitos humanos também sinalizaram a diminuição do espaço para a sociedade civil e o jornalismo independente na Turquia. Em março, o prefeito de Istambul, Ekrem İmamoğlu, principal rival político de Erdoğan, foi preso sob acusações de corrupção amplamente consideradas como politicamente motivadas. Sua prisão desencadeou protestos em massa e turbulência econômica, incluindo uma queda acentuada da lira turca e uma intervenção do banco central de US$40 bilhões, de acordo com o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento.
O relatório de 2024 da Agência da UE para os Direitos Fundamentais detalhou questões em andamento na Turquia em relação à independência judicial e à liberdade de expressão. O Conselho da Europa iniciou processos de infração contra a Turquia por se recusar a cumprir as decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. As instituições da UE continuam a pressionar por maior transparência e reforma judicial.
Funcionários do Ministério das Relações Exteriores da Turquia disseram à Euronews Turkish que a inclusão de empresas e instituições turcas no SAFE e programas relacionados servirá como um teste decisivo para o compromisso da UE com a cooperação equitativa.
O crescente setor de defesa e a importância geoestratégica da Turquia permanecem difíceis de ignorar para os estados da UE. Alemanha e Espanha estão entre os que apoiam um envolvimento mais próximo com Ancara. A Itália, antes cautelosa em relação à cooperação em defesa com a Turquia, agora está explorando discretamente vias para o diálogo de segurança regional.
A iniciativa SAFE oferece um caminho formal para a Turquia desenvolver laços de defesa mais fortes com a UE. Para Bruxelas, o desafio será conciliar as necessidades estratégicas com os compromissos com os valores democráticos. A forma como a UE lida com o papel da Turquia no SAFE pode moldar não apenas as relações UE-Turquia, mas também o futuro da política de defesa da Europa.
Kaja Kallas