‘Vivendo em uma ditadura’: Prisão de prefeito de Istambul gera revolta

Ekrem İmamoğlu, prefeito de Istambul e principal opositor do presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, foi detido na manhã de 19 de março de 2024, junto com dezenas de auxiliares, representantes eleitos e membros de seu partido, acusados de “corrupção”, segundo o promotor público da cidade.
“Estamos vivendo em uma ditadura”, disse Kuzey, um comerciante de Istambul, após a polícia deter o popular prefeito de oposição Ekrem İmamoğlu sob acusações de corrupção.
A detenção de İmamoğlu de madrugada por supostos crimes de corrupção foi “puramente política”, afirmou Kuzey ao abrir sua loja perto da Praça Taksim. A medida ocorre dias antes de İmamoğlu, principal rival político de Erdoğan, ser oficialmente anunciado como candidato da oposição à eleição presidencial de 2028.
“Sempre que esse cara e sua equipe suja veem alguém forte, entram em pânico e fazem algo ilegal”, disse este quarentão vestindo jeans e uma blusa preta, referindo-se a Erdoğan e ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002. “Mas nós, turcos, somos um povo forte, estamos acostumados a lutar contra isso”, declarou, enquanto um grande contingente policial se dirigia à Praça Taksim, cercada por barreiras metálicas.
Quatro caminhões de controle de distúrbios, equipados com canhões de água, foram posicionados para impedir protestos na enorme praça que foi epicentro dos levantes contra Erdoğan em 2013, quando ele era primeiro-ministro.
Muitos hesitavam em comentar os acontecimentos, e os que o fizeram recusaram-se a dar mais que o primeiro nome. “Isso é muito grave, e não sei o que virá. Nunca se sabe o que eles farão”, disse Mustafa, um transeunte. “Estou com raiva, mas o que podemos fazer?”
Em uma rua próxima, um aposentado de boina cinza também expressou indignação com a detenção de İmamoğlu e mais de 100 associados, muitos do Partido Republicano do Povo (CHP), principal grupo de oposição. “Estou triste pelo meu país. Não deveria ser assim”, disse à Agence France-Presse, recusando-se a se identificar.
‘Antes os golpes eram dados por soldados’
Em frente à sede da polícia onde o prefeito foi levado, centenas protestavam perto das barreiras, gritando: “İmamoğlu, você não está sozinho!” e “Governo, renuncie!”. “Um dia, o AKP terá de prestar contas ao povo!”
Na İstiklal, principal rua de comércio, agências de câmbio — que atendem milhões de turistas — enfrentavam turbulência. A notícia da prisão fez a lira turca atingir mínimas históricas ante o dólar e o euro. Diante de uma delas, Hasan Yıldız, 63, concordou que a ação era um “golpe” contra a oposição.
A detenção ocorreu dias antes de o CHP confirmar İmamoğlu como candidato à presidência em 2028. “Antes, eram os soldados que davam golpes. Hoje, são os políticos”, disse Yıldız, ignorando a viatura estacionada ali. “Investidores estrangeiros não virão mais. Quem investiria em um país sem justiça?”
‘Os preços vão disparar’
Emre, um trabalhador local, previu mais crise econômica: “Não me surpreendo mais. A taxa logo chegará a 50 liras por euro” — referindo-se aos 42 liras por euro, recorde após a prisão. “Isso afetará o pão e tudo mais. Tudo por ações injustas de um homem”.
Zeynep Kara, 68, admitiu: “Estou furiosa”. Para ela, o motivo da detenção é “óbvio” — impedir sua candidatura —, com as acusações de corrupção sendo um “pretexto”. “A situação não vai melhorar”, concluiu.
Agence France-Presse
Fonte: ‘Living in a dictatorship’: İstanbul mayor’s detention sparks anger – Stockholm Center for Freedom