Voz da Turquia

As taxas de suicídio entre adolescentes na Turquia dispararam 80% entre 2018 e 2022, um dos aumentos mais acentuados globalmente, segundo um relatório recente da UNICEF que classifica o país perto das últimas posições em bem-estar infantil.

Os dados são do relatório “Innocenti Report Card 19: Child Well-Being in an Unpredictable World” (Relatório Innocenti Card 19: Bem-Estar Infantil em um Mundo Imprevisível), que avaliou 43 países da UE e da OCDE, mas classificou apenas 36 devido à envios incompletos de dados. A Turquia ficou em 35º lugar geral, posicionando-se entre os mais baixos nas três dimensões do bem-estar infantil: saúde mental, saúde física e desenvolvimento de habilidades.

O relatório analisa seis indicadores centrais — satisfação com a vida, suicídio de adolescentes, mortalidade infantil, excesso de peso, proficiência acadêmica e habilidades sociais — para avaliar o bem-estar infantil em saúde mental, saúde física e desenvolvimento de habilidades.

Em entrevista ao site de notícias Gazete Oksijen, o Prof. Dr. Özgür Öner, chefe de Psiquiatria Infantil e da Adolescência da Universidade Bahçeşehir, disse que a Turquia compartilha desafios globais como a superexposição digital e a ansiedade climática, mas enfrenta estressores adicionais específicos do país. “Em nosso país, as dificuldades socioeconômicas e, para alguns jovens, questões políticas também surgem como fatores significativos”, afirmou ele.

Öner acrescentou que os jovens no país estão lidando com um sentimento generalizado de incerteza.

“Há uma ansiedade intensa em relação ao futuro. Mais de 70% dos jovens dizem que querem viver em outro país”, disse ele.

De acordo com o relatório da UNICEF, a satisfação com a vida entre os adolescentes turcos também despencou. Apenas 57% dos jovens de 15 anos relatam alta satisfação com a vida, colocando a Turquia em último lugar neste indicador. O país está 19 pontos percentuais atrás do Chile, o penúltimo colocado.

As taxas de sobrepeso e obesidade infantil continuam a subir, enquanto a Turquia ficou entre os piores em desenvolvimento de habilidades, particularmente em proficiência acadêmica e conexão social.

Ecem Demirtürk, psicóloga clínica e membro do conselho da Associação Turca de Psicologia, mencionou graves deficiências na infraestrutura de saúde mental.

“Acessar psicoterapia ou aconselhamento de alta qualidade é extremamente difícil e caro”, disse ela. “Mesmo quando a medicação é eventualmente acessível, o apoio psicológico significativo muitas vezes não é.”

Ela alertou que, sem investimento sistêmico em serviços de saúde mental acessíveis para jovens, a crise se aprofundará. “Nossos serviços de orientação não podem se limitar à preparação para exames”, disse ela. “Eles devem ser reestruturados para responder às necessidades emocionais das crianças. Os serviços de saúde mental não são opcionais; são essenciais.”

Demirtürk pediu a expansão do apoio psicológico nas escolas e maior disponibilidade de profissionais qualificados, alertando que o sistema atual deixa muitos jovens isolados. “A combinação de negligência e estigma os está deixando sem a ajuda de que precisam”, disse ela.

Demirtürk defendeu o investimento imediato em serviços de saúde mental nas escolas, um apoio psicológico mais amplo para as famílias e campanhas nacionais para desestigmatizar as doenças mentais. “O bem-estar psicológico não é um luxo”, disse ela. “É um direito humano e um alicerce para o futuro de qualquer sociedade.”

Fonte: Turkey sees 80 percent rise in adolescent suicide rates: UNICEF – Stockholm Center for Freedom