Turquia violou os direitos dos clérigos ortodoxos gregos, anuncia o tribunal superior em decisão fundamentada

O Tribunal Constitucional da Turquia decidiu, em setembro, que dois clérigos ortodoxos gregos foram ilegalmente impedidos de fazer parte do conselho de uma fundação, violando seu direito constitucional à liberdade de associação, informou o site de notícias Agos, citando a decisão fundamentada do tribunal publicada no Diário Oficial do país na sexta-feira.
Os clérigos Atanasios Mamasis e George Kasapoğlu, afiliados ao Patriarcado Ecumênico de Istambul, foram eleitos para o conselho da Fundação da Igreja Ortodoxa Grega Samatya Aya Analipsis em 2011. No entanto, a Direção Geral de Fundações (VGM), uma agência do governo turco responsável pela supervisão e administração de fundações, recusou-se a validar a eleição a menos que os clérigos fossem removidos, citando seus papeis religiosos como incompatíveis com a participação no conselho.
Os clérigos contestaram a decisão, argumentando que o Regulamento de Fundações de 2008 não proibia que clérigos participassem de conselhos de fundações. O VGM contra-argumentou, citando o Tratado de Lausanne, que eles interpretaram como impedindo líderes religiosos de exercerem funções administrativas e políticas.
O Tratado de Lausanne de 1923, que estabeleceu as fronteiras da Turquia moderna, reconheceu e garantiu os direitos das minorias não muçulmanas, incluindo sua autonomia para administrar instituições religiosas, educacionais e de caridade. No entanto, as autoridades turcas frequentemente interpretaram o tratado como uma base para limitar as funções políticas e administrativas dos líderes religiosos minoritários, argumentando que suas responsabilidades devem permanecer estritamente espirituais.
Os críticos dessa interpretação alegam que o Tratado de Lausanne não restringe explicitamente a participação do clero em conselhos administrativos, argumentando que tais limitações prejudicam a autonomia prometida pelo tratado.
Depois de esgotar todas as vias legais sem sucesso, Kasapoğlu e Mamasis, acompanhados de seu advogado Hülya Benlisoy, entraram com um pedido individual no Tribunal Constitucional em 24 de outubro de 2019.
Em sua decisão de 18 de setembro de 2024, o tribunal considerou que a prolongada incerteza jurídica privou os requerentes de seu direito à liberdade de associação, protegido pelo artigo 33 da Constituição turca. O tribunal concedeu a cada requerente 30.000 liras turcas (US$ 847) em danos não pecuniários e ordenou que uma cópia da decisão fosse enviada ao VGM e ao Ministério da Justiça.
O caso não é o primeiro do gênero. Em 2023, o Tribunal Constitucional decidiu a favor de George Kasapoğlu e de outro clérigo, Niko Mavrakis, que foram igualmente impedidos de participar de diretorias de outras fundações ortodoxas gregas. Ambos os casos destacaram as restrições sistêmicas enfrentadas por grupos religiosos minoritários na Turquia.