Promotor pede prisão para meninas por terrorismo por atividades religiosas e sociais

Um promotor turco recomendou penas de prisão para todas as 41 rés no controverso “julgamento das meninas”, um caso de terrorismo que tem como alvo meninas menores de idade e suas mães por atividades religiosas e educacionais rotineiras supostamente ligadas ao movimento Hizmet, de base religiosa, disseram observadores ao Turkish Minute.
Durante a audiência de sexta-feira no 24º Alto Tribunal Criminal de Istambul, o promotor apresentou seu parecer final, pedindo penas de prisão que variam de seis a 15 anos para cada uma das rés.
As acusações incluem suposta filiação a uma organização terrorista com base em atividades como participar de círculos de estudo do Alcorão, organizar sessões de reforço escolar, comemorar aniversários e socializar em apartamentos que seriam afiliados ao movimento.
O pedido do promotor parece desconsiderar as extensas objeções levantadas pela defesa ao longo do processo que durou um ano. Embora o parecer final tenha várias dezenas de páginas, ele não foi lido na íntegra, disseram os observadores, falando sob condição de anonimato. Em vez disso, o promotor fez um breve resumo oral que durou apenas alguns minutos, levantando mais preocupações sobre a seriedade e a lisura processual do julgamento.
A audiência foi adiada para dar tempo à defesa para preparar suas alegações finais. A próxima audiência foi marcada para 18 de julho, às 10h, com uma possível continuação em 19 de julho, se necessário.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, vem perseguindo os seguidores do movimento desde que investigações de corrupção reveladas em 2013 implicaram o então primeiro-ministro Erdoğan, bem como alguns de seus familiares e de seu círculo próximo.
Rejeitando as investigações como um golpe do Hizmet e uma conspiração contra seu governo, Erdoğan começou a perseguir os membros do movimento. Ele classificou o movimento como uma organização terrorista em maio de 2016 e intensificou a repressão contra ele após uma tentativa de golpe fracassada em julho do mesmo ano, que ele acusou o Hizmet de arquitetar. O movimento nega veementemente o envolvimento na tentativa de golpe ou em qualquer atividade terrorista.
O julgamento das meninas envolve 41 rés, incluindo 14 adolescentes, acusadas de terem ligações com o movimento. As meninas foram detidas em maio de 2024 sem acesso a advogados ou a seus pais e teriam sido ameaçadas enquanto estavam sob custódia policial.
Os promotores argumentaram que as atividades comuns das rés, como frequentar grupos de estudo do Alcorão, orar, organizar sessões de reforço escolar, jogar boliche e fazer refeições juntas, indicam filiação a uma organização terrorista, citando mais de 100 desses “atos terroristas” na denúncia.
O tribunal aceitou a denúncia em 8 de julho de 2024.
O julgamento atraiu críticas internacionais por tratar atividades religiosas e educacionais rotineiras como evidência de terrorismo e faz parte de uma repressão mais ampla contra pessoas acusadas de ligações com o movimento Hizmet.
Grupos de direitos humanos têm criticado repetidamente as leis antiterrorismo da Turquia por suas definições vagas e por seu uso para perseguir dissidentes políticos, jornalistas e membros da sociedade civil.