Voz da Turquia

O Conselho de Medicina Legal da Turquia (ATK) divulgou na sexta-feira conclusões atualizadas sobre a morte da estudante universitária Rojin Kabaiş, que reacenderam a indignação pública sobre suposta negligência e irregularidades na investigação, de acordo com a mídia turca.

Kabaiş, de 21 anos, desapareceu após deixar seu dormitório em Van em 27 de setembro de 2024. Seu corpo foi encontrado 18 dias depois na margem do Lago Van, a quase 18 quilômetros de onde ela desapareceu. O relatório da autópsia listou a causa da morte como asfixia e observou a presença de dois vestígios de DNA masculino não identificados em seu corpo, juntamente com sangue de uma mulher em sua camiseta.

De acordo com seu pai, as autoridades disseram que foi suicídio e pretendiam encerrar a investigação imediatamente. No entanto, sua família é categórica de que sua filha não morreu por suicídio e exige uma investigação completa.

Em seu relatório atualizado, o ATK afirmou que DNA de dois homens distintos foi encontrado no peito e na área vaginal interna de Kabaiş. A descoberta fortaleceu as suspeitas de que ela pode ter sido morta após uma agressão sexual, em vez de ter morrido por suicídio.

A atualização vem 10 meses após o relatório inicial, após repetidos pedidos da família e do advogado de Kabaiş. As ordens de advogados de Van e Diyarbakır haviam apresentado uma queixa criminal contra o ATK em 25 de setembro, acusando-o de negligência por não divulgar em seu relatório inicial os locais anatômicos de onde essas amostras de DNA foram coletadas.

O ATK sustentou que o DNA poderia ter sido transferido post-mortem ou através de contato ambiental, concluindo que não havia evidência médica de agressão sexual.

A advogada Helin Tapancı da Ordem dos Advogados de Diyarbakır disse que erros processuais e negligência do ATK paralisaram o caso, acrescentando que a possibilidade de agressão sexual não pode ser descartada.

Após os últimos acontecimentos, a parlamentar do Partido da Igualdade e Democracia dos Povos (Partido DEM) Sümeyye Boz apresentou uma pergunta parlamentar ao ministro da Justiça, questionando por que os locais das amostras de DNA foram omitidos do relatório inicial e só foram adicionados após um atraso de 10 meses. Em uma moção separada ao presidente do parlamento, ela pediu o estabelecimento de uma comissão de inquérito parlamentar para garantir mecanismos judiciais que protejam o direito das mulheres à vida e fortaleçam a independência do ATK.

Feminicídios e violência contra mulheres são problemas crônicos na Turquia, onde mulheres são mortas, estupradas ou espancadas quase todos os dias. Um total de 145 mulheres foram assassinadas na Turquia nos primeiros seis meses de 2025, enquanto outras 215 morreram em circunstâncias suspeitas.

Organizações de direitos das mulheres há anos tentam conscientizar sobre o aumento da violência contra mulheres que ocorreu nas últimas duas décadas. Muitos críticos dizem que a principal razão por trás da situação são as políticas do governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que protege homens violentos e abusivos oferecendo-lhes impunidade.

Fonte: Delayed forensic report in student’s death fuels claims of negligence – Stockholm Center for Freedom